sexta-feira, 28 de maio de 2010

Escrever é como catar feijão...

Certa vez definiu Cabral de Melo Neto:
“Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois joga-se fora o que boiar”
.
Melhor definição não poderia haver, mas como não sou autora de tais sábias palavras, ouso ter meu próprio conceito de escrever.
Comparo um poema prestes a ser escrito com uma tela prestes a ser pintada.
Acredito que o artista olha a tela virgem, esvazia a mente e Voilà. Começa com rabiscos e antes que se perceba, uma obra. Sem pensar demais, obtêm-se uma pintura abstrata aos olhos
alheios mas sólida para o pintor. Frida era mestre em pintar situações de sua vida a medida que iam
acontecendo. Gogh fazia o mesmo. Eram mestres em retrarar o cenário em que viviam, embora grande parte de suas artes não passassem de abstração para terceiros.
Assim é o poeta. Ele observa a folha em branco e com a velocidade de um raio, tece um aglomerado de palavras, o qual define poesia. O poeta não pensa. Não premedita suas palavras nem faz rascunho. Pra mim, a verdadeira poesia é aquela feita no impulso. Você não pensa, simplismente escreve, escreve e escreve e quando pára e a analisa vê que ela, quase sempre, é um sincero retrato interior. Redigir uma poesia compara-se a atingir o nirvana. O poeta, a meu ver, possui a desvantagem de não conseguir ser falso. As palavras teimam em sair conforme seu estado de espírito.
E a poesia como um todo, representa sua alma.
O poeta não controla. Não mede. Ele é apenas um objeto sendo manipulado pelas palavras. Sim! As palavras o dominam e não o contrário.
Como diria Graciliano “…a palavra não foi feita para enfeitar,
brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”

Fabyola Gleyce

quinta-feira, 27 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Frustrações apenas...

Eu tento.
Juro que tento
Me libertar dessa linha byronista
Que por vezes
Teima me perseguir,
E tento expressar claramente
Meus versos, verbos e emoções
Mas o final a que chego
E me aconchego
É dentro do casulo
Que acabei construindo pra mim.
Despi-me das asas,
E fechei os olhos
Para flores diversas encontradas.
Quis entender meus versos,
E o que encontro?
Um pobre poeta amaldiçoado
A letrar apenas melancolia...
Fechei-me só, enclausurada
Num espaço curto
E pus a colocar
Pensamentos em ordem.
Ah...poeta tola que julgo ser!
Imersa em pranto e escuridão,
Incomodei-me quando uma fresta se abriu
E o primeiro raio da manhã
Veio acorda-me de forma radiante.
“Vá embora luz,
e me deixe dormir mais um pouco”
Resmunguei alguma coisa
Dramático-poeta,
E quando percebi nasciam novas asas
Ainda mais fortes
Que as que tinha despido.
Oh tremenda conspiração!
Por que teimam em fornecer-me força?
Por que não me deixam simplesmente
Embebedar nessa taverna
E escrever palavras sem sentido?
Com meu casulo completamente rompido
Experimento as asas
E percebo que com elas
Tenho mais liberdade.
As asas as quais despi
Estavam quebradas,
E talvez eu precisasse realmente
Tirar férias da vida,
Em um pequeno instante,
Pra que enfim,
Pudesse voar novamente.

Fabyola Gleyce

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu e o espelho

Um dia desse peguei-me olhando ao espelho.
Devo ter ficado assim, inerte, durante algumas horas, não lembro bem.
Pus-me a observar meus detalhes, meu cabelo, meu rosto e o tudo o que poderia ver naquele reflexo.
De repente, foi como se minha mente começasse a viajar, e vi-me criança outra vez. Comecei a comparar meu corpo agora adulto, ao daquela criança que via. Quanta coisa mudou! Quanto de mim foi embora com o passar do tempo. Veio-me um sensação de saudade e uma certa inveja. Aquela criança não tinha medo do mundo. Preocupava-se em estar sempre arrumada para ver o papai chegar do serviço e levá-la pra correr nos gramados do Olaria, quando ainda existia tais.
Aquela menina gostava de balas de maçã verde, gostava dos desenhos do Pernalonga e de pegar insetos na mão. Não tinha maldade nem preocupações. Seu mundo era limitado, é verdade. Mas fisicamente apenas. Em sua mente, a menina ia a Lua, ia até a China quando quisesse, andava em cima do arco-íris e em toda época de natal, aventurava-se a procurar a casa do Papai Noel. Sim, porque ele existia.
Ela era um livro completo, apesar da pouca idade.
Fechei os olhos em um pequeno instante. Apertei-os bem e abri em seguida. Continuava lá meu reflexo, agora porém, adulto.
Concentrei em mim mesmo, deixando aquele sentimento nostálgico de lado, e procurei buscar ver algo além do visível. O que via era uma menina-mulher, mãe e filha desempenhando papéis que, talvez não eram para ser meus.
Quantas perguntas e dúvidas! Quanto de mim eu teria que perguntar para o mundo? Quantas respostas eu teria?
Quem eu seria na realidade? Na realidade física e abstrata, quem seria essa menina-mulher, personagem real que via outrora em minha frente? Quanto havia de mim no mundo, e quanto havia do mundo em mim? Se tirasse de mim todas as influências sofridas até hoje, todos os traumas, tudo o que aprendi, tudo o que busquei, sofri, tudo o que vi, tudo que de alguma forma me afetou, quem seria o eu na essência mais pura possível?
Quem seria esse reflexo sem o teatro do dia-a-dia, sem as influências do passado, e sem a obrigação de seguir cuidadosamente a fronteira da causa e efeito?
Inerte, frente ao espelho, pergunto-me qual seria a recompensa ao fim dessa coleção de momentos e variações a qual chamamos vida. Mas não obtenho respostas.

Fabyola Gleyce