Certa vez definiu Cabral de Melo Neto:
“Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois joga-se fora o que boiar”.
Melhor definição não poderia haver, mas como não sou autora de tais sábias palavras, ouso ter meu próprio conceito de escrever.
Comparo um poema prestes a ser escrito com uma tela prestes a ser pintada.
Acredito que o artista olha a tela virgem, esvazia a mente e Voilà. Começa com rabiscos e antes que se perceba, uma obra. Sem pensar demais, obtêm-se uma pintura abstrata aos olhos
alheios mas sólida para o pintor. Frida era mestre em pintar situações de sua vida a medida que iam
acontecendo. Gogh fazia o mesmo. Eram mestres em retrarar o cenário em que viviam, embora grande parte de suas artes não passassem de abstração para terceiros.
Assim é o poeta. Ele observa a folha em branco e com a velocidade de um raio, tece um aglomerado de palavras, o qual define poesia. O poeta não pensa. Não premedita suas palavras nem faz rascunho. Pra mim, a verdadeira poesia é aquela feita no impulso. Você não pensa, simplismente escreve, escreve e escreve e quando pára e a analisa vê que ela, quase sempre, é um sincero retrato interior. Redigir uma poesia compara-se a atingir o nirvana. O poeta, a meu ver, possui a desvantagem de não conseguir ser falso. As palavras teimam em sair conforme seu estado de espírito.
E a poesia como um todo, representa sua alma.
O poeta não controla. Não mede. Ele é apenas um objeto sendo manipulado pelas palavras. Sim! As palavras o dominam e não o contrário.
Como diria Graciliano “…a palavra não foi feita para enfeitar,
brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”
Fabyola Gleyce
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Frustrações apenas...
Eu tento.
Juro que tento
Me libertar dessa linha byronista
Que por vezes
Teima me perseguir,
E tento expressar claramente
Meus versos, verbos e emoções
Mas o final a que chego
E me aconchego
É dentro do casulo
Que acabei construindo pra mim.
Despi-me das asas,
E fechei os olhos
Para flores diversas encontradas.
Quis entender meus versos,
E o que encontro?
Um pobre poeta amaldiçoado
A letrar apenas melancolia...
Fechei-me só, enclausurada
Num espaço curto
E pus a colocar
Pensamentos em ordem.
Ah...poeta tola que julgo ser!
Imersa em pranto e escuridão,
Incomodei-me quando uma fresta se abriu
E o primeiro raio da manhã
Veio acorda-me de forma radiante.
“Vá embora luz,
e me deixe dormir mais um pouco”
Resmunguei alguma coisa
Dramático-poeta,
E quando percebi nasciam novas asas
Ainda mais fortes
Que as que tinha despido.
Oh tremenda conspiração!
Por que teimam em fornecer-me força?
Por que não me deixam simplesmente
Embebedar nessa taverna
E escrever palavras sem sentido?
Com meu casulo completamente rompido
Experimento as asas
E percebo que com elas
Tenho mais liberdade.
As asas as quais despi
Estavam quebradas,
E talvez eu precisasse realmente
Tirar férias da vida,
Em um pequeno instante,
Pra que enfim,
Pudesse voar novamente.
Fabyola Gleyce
Juro que tento
Me libertar dessa linha byronista
Que por vezes
Teima me perseguir,
E tento expressar claramente
Meus versos, verbos e emoções
Mas o final a que chego
E me aconchego
É dentro do casulo
Que acabei construindo pra mim.
Despi-me das asas,
E fechei os olhos
Para flores diversas encontradas.
Quis entender meus versos,
E o que encontro?
Um pobre poeta amaldiçoado
A letrar apenas melancolia...
Fechei-me só, enclausurada
Num espaço curto
E pus a colocar
Pensamentos em ordem.
Ah...poeta tola que julgo ser!
Imersa em pranto e escuridão,
Incomodei-me quando uma fresta se abriu
E o primeiro raio da manhã
Veio acorda-me de forma radiante.
“Vá embora luz,
e me deixe dormir mais um pouco”
Resmunguei alguma coisa
Dramático-poeta,
E quando percebi nasciam novas asas
Ainda mais fortes
Que as que tinha despido.
Oh tremenda conspiração!
Por que teimam em fornecer-me força?
Por que não me deixam simplesmente
Embebedar nessa taverna
E escrever palavras sem sentido?
Com meu casulo completamente rompido
Experimento as asas
E percebo que com elas
Tenho mais liberdade.
As asas as quais despi
Estavam quebradas,
E talvez eu precisasse realmente
Tirar férias da vida,
Em um pequeno instante,
Pra que enfim,
Pudesse voar novamente.
Fabyola Gleyce
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Eu e o espelho
Um dia desse peguei-me olhando ao espelho.
Devo ter ficado assim, inerte, durante algumas horas, não lembro bem.
Pus-me a observar meus detalhes, meu cabelo, meu rosto e o tudo o que poderia ver naquele reflexo.
De repente, foi como se minha mente começasse a viajar, e vi-me criança outra vez. Comecei a comparar meu corpo agora adulto, ao daquela criança que via. Quanta coisa mudou! Quanto de mim foi embora com o passar do tempo. Veio-me um sensação de saudade e uma certa inveja. Aquela criança não tinha medo do mundo. Preocupava-se em estar sempre arrumada para ver o papai chegar do serviço e levá-la pra correr nos gramados do Olaria, quando ainda existia tais.
Aquela menina gostava de balas de maçã verde, gostava dos desenhos do Pernalonga e de pegar insetos na mão. Não tinha maldade nem preocupações. Seu mundo era limitado, é verdade. Mas fisicamente apenas. Em sua mente, a menina ia a Lua, ia até a China quando quisesse, andava em cima do arco-íris e em toda época de natal, aventurava-se a procurar a casa do Papai Noel. Sim, porque ele existia.
Ela era um livro completo, apesar da pouca idade.
Fechei os olhos em um pequeno instante. Apertei-os bem e abri em seguida. Continuava lá meu reflexo, agora porém, adulto.
Concentrei em mim mesmo, deixando aquele sentimento nostálgico de lado, e procurei buscar ver algo além do visível. O que via era uma menina-mulher, mãe e filha desempenhando papéis que, talvez não eram para ser meus.
Quantas perguntas e dúvidas! Quanto de mim eu teria que perguntar para o mundo? Quantas respostas eu teria?
Quem eu seria na realidade? Na realidade física e abstrata, quem seria essa menina-mulher, personagem real que via outrora em minha frente? Quanto havia de mim no mundo, e quanto havia do mundo em mim? Se tirasse de mim todas as influências sofridas até hoje, todos os traumas, tudo o que aprendi, tudo o que busquei, sofri, tudo o que vi, tudo que de alguma forma me afetou, quem seria o eu na essência mais pura possível?
Quem seria esse reflexo sem o teatro do dia-a-dia, sem as influências do passado, e sem a obrigação de seguir cuidadosamente a fronteira da causa e efeito?
Inerte, frente ao espelho, pergunto-me qual seria a recompensa ao fim dessa coleção de momentos e variações a qual chamamos vida. Mas não obtenho respostas.
Fabyola Gleyce
Devo ter ficado assim, inerte, durante algumas horas, não lembro bem.
Pus-me a observar meus detalhes, meu cabelo, meu rosto e o tudo o que poderia ver naquele reflexo.
De repente, foi como se minha mente começasse a viajar, e vi-me criança outra vez. Comecei a comparar meu corpo agora adulto, ao daquela criança que via. Quanta coisa mudou! Quanto de mim foi embora com o passar do tempo. Veio-me um sensação de saudade e uma certa inveja. Aquela criança não tinha medo do mundo. Preocupava-se em estar sempre arrumada para ver o papai chegar do serviço e levá-la pra correr nos gramados do Olaria, quando ainda existia tais.
Aquela menina gostava de balas de maçã verde, gostava dos desenhos do Pernalonga e de pegar insetos na mão. Não tinha maldade nem preocupações. Seu mundo era limitado, é verdade. Mas fisicamente apenas. Em sua mente, a menina ia a Lua, ia até a China quando quisesse, andava em cima do arco-íris e em toda época de natal, aventurava-se a procurar a casa do Papai Noel. Sim, porque ele existia.
Ela era um livro completo, apesar da pouca idade.
Fechei os olhos em um pequeno instante. Apertei-os bem e abri em seguida. Continuava lá meu reflexo, agora porém, adulto.
Concentrei em mim mesmo, deixando aquele sentimento nostálgico de lado, e procurei buscar ver algo além do visível. O que via era uma menina-mulher, mãe e filha desempenhando papéis que, talvez não eram para ser meus.
Quantas perguntas e dúvidas! Quanto de mim eu teria que perguntar para o mundo? Quantas respostas eu teria?
Quem eu seria na realidade? Na realidade física e abstrata, quem seria essa menina-mulher, personagem real que via outrora em minha frente? Quanto havia de mim no mundo, e quanto havia do mundo em mim? Se tirasse de mim todas as influências sofridas até hoje, todos os traumas, tudo o que aprendi, tudo o que busquei, sofri, tudo o que vi, tudo que de alguma forma me afetou, quem seria o eu na essência mais pura possível?
Quem seria esse reflexo sem o teatro do dia-a-dia, sem as influências do passado, e sem a obrigação de seguir cuidadosamente a fronteira da causa e efeito?
Inerte, frente ao espelho, pergunto-me qual seria a recompensa ao fim dessa coleção de momentos e variações a qual chamamos vida. Mas não obtenho respostas.
Fabyola Gleyce
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