quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Incesante

Estou Seco... Amaldiçoado pela ilusão do meu passado
Cego pelo incortez desejado sonho inocente...
Estou frio pelo desespero de se libertar...
Cansado de lutar...
E mesmo assim fica difícil de achar um fim...
Estou cansado de não me achar enfim...
Me devora a angustiante repressão que enfrento dentro de mim...
Ao caos pela injúria decisão...
Ao fim...

Daniel Lopes

Fotografia


De repente encontrei um papel
Tamanho 10X15
Meio desbotado
Contendo um desenho
De aparência real
No qual se revelavam
Eu e você.
Foi um choque!
Percebi que o motivo
De minha prisão psicológica
Estava ali!
Aquele retrato não me deixava seguir
Não me deixava andar...
Ele me prendia!
Aliás, você me prendia
Dentro de um papel comum
Rodeado de lembranças tolas
E não me deixava amar.
E eu, que tantas vezes me questionei
O motivo da minha prisão
Colocando a culpa
Em sentimentos extintos,
Cai (enfim) em mim,
E vi que o que me prendia era fotos.
Só fotos, sem fatos
Sem nexo,
Sem sentimento.
Rasguei-a
Como um refugiado que cruza a linha
Da fronteira,
Me libertei de você.
Eram só fotos...

Fabyola Gleyce

Solidão


Mar negro de solidão
Invoco-te!
Busca-me já.
Imersa em meu pranto
Me afogo.
Em meus soluços
Me sufoco.
Agonizo.
Minha alma azul
Morre aos poucos...
Um retrato em branco...
Não possui essência.
Possui um vazio.
Venha ó mar!
E me leve.
Em sua plenitude
Quero exaltar meus pensamentos.
Perante tua infinda riqueza,
Coloco-me.
Quero me expandir.
Invoco-te!
Imploro-te!
Integre-se a mim...

Fabyola Gleyce

Tecelagem


Minha coleção de poesia
Minha coleção de sonhos.
Palavras soltas
Tecem sentimentos
Traduzem emoções
E nesse vai-e-vem
Eu me descubro,
Me desperto
Me lanço no papel
Agora sou apenas palavras
Nenhum objeto direto me intervém.
Verbos...
Inventar,
Criar,
Tecer.
Tecer mais um poema.
Mais uma fotografia interior.

Fabyola Gleyce (Foto e poema)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Traição (metafísica)


Ontem te traí.
Dormi com alguém que me fez
Companhia
Aceitou minhas palavras
Meus traços tortos.
Alguém que me acalentou na insônia
Me abraçou
E me lembrou
o quanto por fazer eu ainda tenho.
Te trai
Por um motivo
(In) justo,
Pois não agüentava mais
A espera vazia por um beijo seu.
Não precisei pedi-lo
Pra subir ate meu apartamento
Nem que se atirasse sobre mim,
Pois quando vi
Ele estava arrancando de mim
Sentimentos profundos
Em meio a orgasmos múltiplos
E plurissignificativos.
Alguém que transformou
minha magoa em
letra de bossa nova
e resumiu minha melancolia
num breve hai-kai
que afagou meus cabelos
nessa meia-noite
impura e prostituída
na qual me adentrei.
Sem convites,
Sem nomes,
Sem ressentimento.
Foi algo momentâneo
Impulso.
Te trai. E como foi bom!
Já passa das três da manhã
E ainda sinto minha pele molhada
E latejante pela
sua presença quase surreal.
Não me arrependo.
Foi só uma noite perdida
Mas compensada
Pela sensação de êxtase
Que carrego ate agora.
Não sei se te revelarei
Ou se guardarei essa verdade
Na terceira gaveta
Da cômoda arquivada aos outros casos
Hoje te trai.
Em devaneios obscenos
E palavras sujas,
Troquei-te.
E em um plano cercado
Pelo meu metafísico,
Troquei-te por esse poema.

Fabyola Gleyce

Dos desajustes


Acordei hoje cedo e vi no espelho um outro sujeito. Não me incomodei. Depois fui trabalhar, e lá, sentado frente ao micro, digitando coisas, ouvindo o barulho tec tec das teclas do micro, e o tic tac do relógio, além das ameaças de demissão sumária, fico com impressão de que cedo cedo vou chegar para trabalhar, estender o dedo indicador em direção ao liga e desliga do micro e ver que já tem alguém sentado na minha cadeira, e o que é pior, porta retrato ao lado da caixinha de som com uma foto em que eu não apareço, lembretes em post-it amarelo que não com a minha letra, canetas multicoloridas substituindo minhas Bics fiéis no porta caneta. Depois, quando vir que o sujeito já está mesmo no meu lugar, empoçado, vem o meu chefe com o dedo indicador apontando para mim. Ouvirei um justus você está demitido. Aquele sujeito no espelho...
Enfim, qualquer dia desses vou chegar à casa da minha namorada, tocar a campainha e ela abrirá. Vou assentar no sofá dela e retirar da sacolinha plástica da videolocadora o DVD que prometi levar para a nossa diversão. No plástico da sacolinha da videolocadora haverá um anúncio: adaptação que chegará às prateleiras em breve, o homem duplicado, de um certo livro de um certo autor português. Quando ligar o aparelho de DVD, e a namorada se assentar, vou perceber sua mão já acariciada, a boca já beijada, o corpo já abraçado, e o sexo já... Bom, é melhor deixar o sexo dela par lá. O cara do espelho deve ter razão. Por fim, os recados no correio eletrônico vão estar já lidos quando eu os acessar. As mensagens no celular já estarão respondidas, apagadas, os textos já estarão postados, e com mais comentários do que o habitual, enfim, as ligações não atendidas já estarão retornadas quando eu as procurar no meu LG. Depois de um tempo, as revistas já estarão abertas tão logo cheguem à minha caixa de correio. E não será o carteiro não. O cara do espelho é mesmo muito sacana. O lado bom disso tudo? Não haverá problema de ter o número do celular clonado, e nem de ter o carro roubado. Nada é meu. Eu não sou de ninguém. E, quando o momento tão aguardado, enfim, chegar, vou ser arrancado da cama com uma violência indiferente à minha sonolência. E vão me enxotar, sem direito a escovar os dentes.
Agora, próximo à hora do almoço, eu posso decidir: largo esta merda de emprego e vou para casa correndo, e chegando lá vou procurar no espelho do banheiro e arrancar aquele cara de lá, e esfolar a cara de barba por fazer dele nos azulejos que imitam azulejos japoneses do meu banheiro, e deixo o sangue escorrer em todas as possíveis direções, ou deixo estar do jeito que está e vejo acontecer o que o sacana me avisou hoje de manhã, minha vida está sendo tomada de mim. Meu emprego, minha namorada, meu próprio reflexo, tudo. No fundo, no fundo, o cara do espelho até tem razão. Tudo é substituição, eterno desajustar. O emprego sempre ameaça acabar, a destreza das mãos também, a visão, coitada, vai se embaçando cada dia mais, o salário não aumenta, e até diminui, por que as coisas que temos que comprar com o que ganhamos, essas sim, aumentam e muito; a namorada gosta cada vez menos de mim, e... e... e... o cara do espelho tem razão. Deixa ele lá, deixa ele lá.

Edi Valesi Valente (Texto) Foto from web

Versos mudos


Palavras soltas e versos mudos.
Uma tecelagem intensa
Se faz e refaz
De forma atemporal
Poesia absurda...
Poema mudo...
Alma sedenta de exposições...

Fabyola Gleyce

Sádico


Quem é você
Que manipula minha mente
Tira-me o sono
Tira-me o ar...
Que me leva a outro plano,
Que me faz duvidar de sua ausência.
Você que me manda
E me faz obedecer...
(E eu obedeço).
Você que de longe
Tirou-me da inércia
Que me maltrata
Que me julga,
Que me repuldia...
Você a quem tanto desejo
E que nessa relação sádica
Tornou-se meu dono.
E eu? Sua escrava
Que invadiu minha mente
Que me tirou o ar
Que me sufoca
E me dá prazer.
Que pesa sua mão em mim
E num gozo eterno
Eu mergulho.
Sua mulher,
Sua fêmea
Sua escrava
Meu lord...
Obedeço-te
Eis-me aqui.
Não precisa por algemas em mim...
Eu sempre estive presa a você...

Fabyola Gleyce

Fragmento Poético


segura a minha mão
vou te levar pr'um lugar onde os ventos não tem direção
vamos seguir o cheiro do vento
vamos sim
acendendo e fumando sentimentos

Augusto Balmant (Poesia e foto)

Estação (um pouco abstrata)


O outono passou...
E eu imersa no meu plano primaveril
Invento mais uma estação do ano
Que traduza parte
De certas palavras
Pseudo-semânticas
Traçadas ao redor de uma estrofe.
O verão se aproxima,
Mas um ar gélido
Paira sobre o ar de tal forma
Que faz-me refletir
Sobre as diversas sensações
Possíveis de serem sentidas
Em um tão curto
Espaço de tempo.
Quando propus
Ao tempo que me desse parte da manhã
E ele me respondeu
Com um sopro forte,
Indicando que meu pedido era
Fora do realizável,
Frustrei-me.
E roubei parte de sua aurora,
(como forma de vingança somente...)
Quando entardeceu,
E eu lá simples menina
cuidando de remos e barcos,
vi que a manhã,
antes tão almejada por mim,
passou despercebida,
e eu inerte,
arrumando meu baú de passados,
não me dei conta quando
um bem-te-vi pousou ao meu lado,
me convidando a compor uma canção
tendo como trilha sonora
apenas aquele barulho singelo
no qual se traduzem o canto dos pássaros.
Comecei então
A compor a melodia da minha vida,
Ou pelo menos daquele pedacinho de tempo,
Que sem que eu precisasse pedir,
Ganhei de presente.
Lembro-me bem,
Que tinha uma tela
Tamanho 30 por 40
E uma única lata de tinta,
Dentro da qual haviam
Os mesmos tons de uma certa aurora
Que há um tempo atrás,
eu havia roubado do Tempo.
Inexperiente artista,
Comecei a tingi-la.
E a tela virgem-pálida,
Logo foi dando origem a
Um céu, a um sol, a...
Não sei.
Uma paisagem meio Vangoghiana
(ou algo assim).
Vi que havia um espaço vago.
Um pequeno espaço,
Onde não cabia cores, nem versos,
Nem mesmo palavras soltas.
Então vi,
Que por trás de qualquer marca, ou mancha,
Ou borrões de tinta,
Havia o tempo
E que o tempo passa,
Logo o que fica
É história.
E aquele pedacinho em branco,
Representava
O meu pedacinho de tempo
Onde eu não havia contado estrelas pra dormir,
(Coisas de menina que não aprendeu a crescer...).
E que indicava que ainda havia uma manhã
E outro dia, e outros dias...
E que naquela noite, eu não precisava
Preencher aquele pedaço vazio.
Eu era apenas, namorada da Lua.
E a poesia era meu único véu,
talvez resquício de uma infância
que insiste em bater à porta
da minha redoma contra ilusões.

Fabyola Gleyce

MERDA HUMANA


Boca pedante ! espalha infectada.
meu esofago gruniu! meu estômago, minha vida.
expulso as impurezas excretando paladar...
imprimo minha força inflando os lábios.

os meus gestos são atônitos... minha merda
não fede nem cheira.
somos tudo isso - Humanidade. MERDA!
MERDA PURA!

Cagamos o barro de que outrora viemos.
comemos de volta a mesma merda.
Merda que nem fede nem cheira!
MERDA HUMANA. Merda pura.

Hugo Neto

O poeta por si só


O poeta
Observa
Escreve
Brinca
Ri
Apaga
Rasga
Papel
Caneta
Tinteiro
Idéia
Pensamento
Voa
Pensa
Escreve
Ri
Não apaga
Rabisca
Reescreve

E transforma isso tudo em poesia.

Fabyola Gleyce

DESfragmento poético XII


Hoje não me traga flores
Nem sorrisos emoldurados
Nem um rascunho
De felicidade.
Me traga um buquê
De rosas azuis,
Para que eu enfeite
A parede esquerda que separa meu corpo da loucura.
Não me venha com esboços
De palavras belas,
Pois elas não passam
De objetos perdidos
Num vácuo inútil.
Hoje, só hoje,
Não me traga flores
Nem promessas pré-definidas
Não me traga sonhos
Nem palavras.
Quero o oculto
E a embriaguez que me leva
a outra dimensão.
Traga-me minhas marcas
Que simbolizam o amor
O choro,
E as lágrimas
Com as quais construí a
ES
CA
DA da minha poesia vil.
Quero o significado distorcido
Lido nas entrelinhas
Dos meus traços.
E talvez um...
Ah...só talvez.
(pré-definido)

Fabyola Gleyce

Silêncios


Procuro silêncios
E calma
E abrigos.
Abrigos para minha mente.
Procuro Deus e deuses
E algo que me tire dessa
Inércia horrível.
Procuro-me,
E não acho.
Perdida em um abismo
De cores confusas
Rodeada por fantasmas azuis.
...
(silêncio)
*
*
*

Procuro o controle
Perdido numa mente insana,
Em meio a pensamentos tolos.
Olho o sangue em meus braços
E vejo nele o que procuro:
A DOR.
Procuro um sentimento extinto
Cujo nome ainda não sei.
Procuro o verde da folha e
azul de um céu qualquer
para me tingir de tons que lembrem uma aurora.
Quero o amanha.
Quero sobreviver o hoje
E trazer cada lagrima de volta ao meu corpo
Tomando-as em uma taça de vinho seco.
Procuro
Uma realidade menos dolorosa,
Mais justa.
Procuro deus.
Procuro algo
Perdida em um baú de passados,
Tomo a manhã do tempo e faço vingança.
Grito no infinito
e o ECO me responde
que não há ninguém alem de mim
Perdida, despercebo a abstinência
Da vida escrita em um papel qualquer.

Fabyola Gleyce

Sobre a Taverna...

Decidi criar esse blog, não só pra mim, mas pra galera que curte literatura. A literatura como sabemos, vem perdendo espaço na atualidade, devido ao crescimento exagerado da cultura de massa, considerada por mim, como "cultura fútil". Quero voltar às origens, quero o barroco e o pós-contemporâneo, quero as atualidades e a livre liberdade de expressão de idéias. Odeio censura.
O título "Taverna Literaria"
surgiu de um bate papo com um amigo-escritor Hugo Neto. E a Taverna era o lugar onde Alvares de Azevedo (byronista) ia se embebedar e escrever.
Quero falar sobre Sade, sobre Kafka, sobre Rimbaud...sobre Machado e Àlvares, mas quero os nossos poetas novos, perdidos nessa sociedade que só vê Paulo Coelho e os best-sellers...
Então, entrem, postem e fiquem a vontade. Diga tudo que pensa, pois tudo é poesia.
Versalize seus pensamentos, crie neologismos...tudo é permitido...afinal literatura é arte.

Fabyola (uma pessoa feita de versos e cores)

    "Eu tenho idéias e razões,
    Conheço a cor dos argumentos
    E nunca chego aos corações."

    Fernando Pessoa, 1932