quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A lição da águia


Faz tempo que tenho estado com esse texto na minha mente, suplicando para ser escrito. Essas palavras, as quais transcreverei aqui, têm pulsado dentro de mim de forma intensa, me incomodando durante o sono e durante o dia.
Se eu procuro uma certa paz pessoal e literária, não escrevê-lo definitivamente está fora de questão.
Faz muito tempo que não transcrevo meus textos pro Taverna, em decorrência da correria diária, que me obriga a escrevê-los em papéis comuns, e arquivá-los jogados por aí, amassados em bolsas, pelos cantos da minha casa, em folhas de cadernos velhos ou novos. Mania de poeta desorganizada que nunca morre.
Sempre faço questão de ressaltar que meus textos já nascem prontos. Cabe a mim apenas a tarefa de organizar as palavras da melhor forma possível.
Pois bem, feito os esclarecimentos, vamos lá!

Esse foi o ano mais intenso que me lembro de ter tido. Mudanças e mudanças em várias áreas da minha vida. Profissional, intelectual, emocional.
A palavra que definiria este ano é sem dúvidas: Intensidade.
Sempre fui uma pessoa intensa. Sempre fiz o que achava que devia fazer no momento presente. A diferença dessa intensidade que experimento hoje, para as que experimentei anteriormente, é que esta está sendo boa e construtiva.
Tenho me comparado muito com a águia.
Passei alguns momentos em minha vida nos quais fui obrigada a encontrar uma força interior que não sabia que tinha. Vivi momentos de desespero, de choro, de angústia. Momentos em que desejei não ter nascido. Momentos em que questionei o porquê da minha existência. Momentos em que me senti inerte e impotente diante da realidade em que me encontrava.
Não cabe aqui descrever em detalhes o que passei. Problemas todo mundo tem e enfrenta em alguma fase da vida. Então, não acho que os problemas que tive são ou foram maiores do que o do resto da população. Foram apenas problemas. E a dor que passei, foi apenas dor.
E como toda dor deve ser sentida, eu senti a minha. E passei por ela.

Em um determinado ponto da minha vida, eu comecei a notar uma série de padrões que se repetiam continuamente. Eu vivia em um ciclo vicioso de traumas, de situações desgastantes emocionalmente. Era sempre assim.
Eu fui moldada sob a fôrma de uma padrão comportamental desde a infância, que me trouxe sérios prejuízos psicológicos na vida adulta.
Quando tomei consciência disto, tive que usar o que gosto de chamar de "A filosofia da águia".

A águia, quando atinge 40 anos de idade,  deve enfrentar a difícil decisão entre morrer (pois suas forças para caçar e voar se esgotam), ou enfrentar um sério e doloroso processo de regeneração.  E aqui começa o paralelo com a minha vida. Comparo-me, hoje, com a águia que opta pela segunda opção.
Tal águia decide voar para a montanha mais alta, e meio a um total isolamento e livre de predadores, começa um doloroso processo de regeneração, o qual dura cinco meses.
A águia começa a bater o seu bico sobre uma pedra até quebrá-lo, para que outro novo possa nascer em seguida. Uma vez com o bico novo, ela começa a arrancar as suas garras, uma a uma, para que nasçam outras. Então enfim, com as garras novas, ela começa a arrancar as suas penas velhas e pesadas, em decorrência da idade avançada.
Passado os cinco meses, vem o famoso vôo de renovação. A águia, com o objetivo de completar esse ciclo regenerativo, toma a decisão de dar um salto firme e seguro em direção ao sol e voa o mais alto possível. Os raios do sol terminam de queimar as penas velhas e gastas e então ela mergulha em uma fonte de água e sai completamente renovada. Passado por esse processo, ela tem condições de viver por mais 30 anos.
Encontrar-me da forma que me encontro hoje, exigiu que eu passasse por isso. Tive que me isolar, parar e refletir por um tempo, e dar início ao meu processo de renovação pessoal.
Tive que destruir o bico do ressentimento,  arrancar as unhas do medo, retirar as velhas penas e me permitir ter novos pensamentos.
Tive que me desprender de pré-conceitos, de filosofias impostas, de maus costumes e de tudo aquilo que estava pesando a minha vida. E doeu. Foi uma mudança que exigiu que eu me descontruísse por inteira. Uma mudança que exigiu isolamento. Uma mudança para tratar as bases da minha vida e não apenas carências emocionais não supridas por fatores e pessoas externas.
Uma mudança que exigiu de mim o chamado auto-conhecimento.
Quando enfim, consegui entender e me desprender dos pesos do meu passado, consegui aproveitar o resultado valioso da renovação.
Alcei um vôo interior de encontro a uma nova vida e me descobri uma nova pessoa. Descobri a pessoa que sempre fui, encoberta porém, por penas velhas.

Permiti-me o fluir de pensamentos e atitudes saudáveis. E, com meu perfil austero, de olhar focado para a frente, prestando, porém, atenção ao meu redor, tenho conseguido atingir minhas metas e objetivos.

Fabyola Gleyce

Um comentário:

  1. Há de ser forte sem perder a ternura jamais...

    Que bom que tudo está melhor agora,
    Força sempre.

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